Tradução da entrevista feita pela Weekend Magazine e publicada pelo site Idependent. Traduzida por Nelson Filho e revisada por Alice Fagiolo.
Ela
é mais conhecida por seu
papel como Luna Lovegood
em 'Harry Potter', no entanto ela
vai além disso. A conversa da
atriz irlandesa com
Tanya Sweeney versou sobre como trabalhar com a UNICEF e conquistar outra carreira como professora de yoga.
Prova positiva de que o fenômeno
“Harry Potter”
se espalhou pelos cantos mais distantes do
globo: quando a atriz Evanna Lynch foi para
as Filipinas com a UNICEF para testemunhar a devastação causada pelo tufão Haiyan recentemente,
ela foi prontamente reconhecida como a excêntrica
aluna de Hogwarts, Luna Lovegood.
“Essa
coisa foi realmente estranha”, reflete ela de sua casa
em Los Angeles. “Essas pessoas viviam em cabanas de lata e sem saneamento,
mas eles tinham telefones com câmera
e souberam imediatamente o que era 'Harry Potter'”.
“Na
viagem, eu queria saber mais sobre o
país e realmente colocar a mão na
massa, mas tinha que agir como celebridade. Pensei comigo mesma 'isso é tão inútil', e eu me senti meio boba, para falar a verdade. Mas depois de um tempo eu disse a mim mesma: ‘supere isso!’.
Essas pessoas querem esperança, e
isso é o que as ajuda a longo prazo. O que elas querem é uma voz no mundo.”
Logo fica claro que Lynch, que cresceu
em Termonfeckin, vê esse trabalho
como um dos benefícios de ser uma celebridade. Ela tem falado e
escrito muito sobre outras questões e
causas; de imagem
corporal e casamento entre o mesmo sexo ao bullying online e MS.
Mas longe de apenas pular de paraquedas
nesses assuntos, ela vem aprendendo com eles ao mesmo tempo em que aprende
sobre si mesma.
“Eu estou ciente da minha ignorância sobre os países que sofreram desastres”, diz ela. “Muitas vezes me peguei
sentindo pena de mim mesma, e trabalho
duro para combater isso.
Nada te força tanto a ser grato por tudo
do que estar em um país atingido por um desastre.”
Mesmo quando ela
fala ao telefone, é fácil ver o porquê de o
produtor de 'Harry Potter',
David Heyman, comentar que: “Outras poderiam atuar como Luna; Evanna Lynch
é Luna.”
Sua voz é feminina,
brincalhona e excêntrica; temperada mais
do que com uma pitada do sotaque de Los Angeles. No entanto, de certa forma, Lynch é um caldeirão
borbulhante de contradições. Ela
fala muitas vezes de sua timidez paralisante quando era uma adolescente e como forçou a si para sair de sua concha antissocial. A partir dos 11 anos de idade, ela lutou
contra transtornos alimentares, entrando
e saindo de clínicas por dois
anos.
“Eu era estranha e excêntrica e fiquei realmente com medo das pessoas e isso me bloqueou de certa forma”, diz ela. "Eu percebi que estava perdendo coisas na vida, sendo tão insegura e presa em meu
próprio mundo.”
No entanto, a Lynch adolescente também
foi corajosa e tenaz. Em 2013, a então desconhecida Evanna,
com 11 anos idade, era paciente no Hospital Nossa Senhora de Lourdes, mas
obteve permissão para passar a manhã na fila que se formava na livraria da Rua
O'Connel para ter sua cópia do último Harry Potter autografada.
Depois de escrever um fan-mail para a autora JK
Rowling quando era jovem, ela viu
chamadas para o elenco de ‘Harry Potter’ através de fansites, por
contra própria. Sob os olhares atentos e um pouco perplexos de seus
pais, Lynch
foi até Londres para
fazer um teste ao lado de
outros 15.000 candidatos, e conseguiu
o papel de Luna
Lovegood aos
14 anos.
Tão
longe, tão fantástico... Porém, fica bem aparente que, nos
anos que se seguiram desde aquele grande acontecimento, ela tem procurado por
si mesma fora das câmeras também. Ela admite a leitura de textos
espirituais e que faz muito trabalho consigo mesma... Tanto por necessidade
como por qualquer outra coisa.
Perguntada se
ela é
religiosa, Lynch
me responde que recentemente ela tem descoberto seus
sentimentos sobre
sua educação católica.
“Eu
parei de ir à
missa, há alguns
anos, principalmente porque não
concordo com as regras”,
lembra ela. “Eu não
gosto de nada que é sobre punir-se ou fazer com que você se sinta
mal consigo mesmo, e
crescendo, eu fui
me sentindo mal por me perdoar ou fazer algo para me divertir E
isso diz muito sobre
transtorno alimentar. Tudo
é sobre a privação, punição e autoflagelação. Enfrentar
isso com amor e
ser muito
indulgente consigo mesmo
é o que realmente importa.”
Após o estrondoso sucesso da franquia 'Harry
Potter', sempre será interessante ver como as
suas estrelas se adaptam à vida
pós-Potter.
Será que eles gostam de
um passeio por Hollywood, com portas
sempre se abrindo? Será que eles
acham difícil deixar
de lado o rotulo de ator mirim, ou
sentem o peso do próprio
estereótipo? Trabalhar
em Harry Potter, como avisou um dos atores mais velhos, seria tudo o que eles
conseguiriam? Seriam
eles forçados a deixar suas
vassouras
e
telas-azul
para
cair na rotina de um trabalho adulto?
Lynch se preocupou sobre todos estes destinos, até certo ponto. Como a Pottermania assola todo o mundo, Jason Isaacs incentivou a então Lynch, 19 anos de idade, a se mudar de Londres para Los Angeles e
capitalizar em cima do sucesso da franquia.
“Fomos informados de que isso pode ser tão bom quanto parece, mas eu não queria acreditar nisso”, ri Lynch. “Eu conheci um monte de pessoas incríveis, mas (trabalhar em Harry Potter) não me ensinou muito sobre a indústria, ou o quão difícil seria conseguir outro trabalho como atriz. Eu não sabia isso na época em que fui conhecer este ‘grande produtor’ ou aquele ‘diretor de elenco’ bem conhecido... Eram apenas pessoas pra mim.”
Trabalhar no set de
filmagem foi claramente um sonho para Lynch, mas ainda assim, houve noites escuras dentro dela durante o caminho: “Eu acho que há essa parte católica dentro de mim - você tem que
trabalhar duro e ganhar a sua recompensa, e não há como conseguir sem
dar o seu sangue e se sacrificar”, ela admite. “De certa forma eu não sinto que eu trabalhei para isso. E quando você consegue impressionar os diretores de elenco,
você sente uma sensação de vitória, quando você consegue o trabalho.”
Como foi evidenciado
em seus anos mais jovem, Evanna certamente tem o
talento necessário para sobreviver
em Hollywood. No entanto, nos três anos que Lynch
viveu lá, os
papéis da telona não vieram necessariamente
tão fácil e rápido como ela poderia esperar.
Talvez a
sombra de Luna Lovegood tenha
aparecido na sala de seleção de elenco: “Meu
empresário estava me enviando para
um monte de papéis convencionais, queridinha
da América, e eu pensei: 'caramba,
eu não irei conseguir esses
papeis. Eu sou
uma atriz excêntrica, o
que significa que eu não sou
boa para muitas
coisas”, diz ela.
Dois curtas-metragens, uma temporada no épico seriado de TV 'Sinbad',
um piloto de TV malfadado,
um filme indie (GBF) e um projeto de um filme nunca terminado (Butler
Monster, co-estrelado por Malcolm McDowell e
Gary Oldman),
outra grande oportunidade de Lynch continuar em ação. Do ponto de vista estonteante de uma franquia de sucesso de bilheteria, que provou ser sucesso ao redor do mundo.
“Quando
Monster Butler não
deu certo no último minuto,
eu fiquei com o coração
partido por algumas semanas, mas
essa foi a minha primeira grande
lição de LA”,
Lynch admite.
“Lembro-me de Jason (Isaacs) me dizendo
que se você for se mudar para
Los Angeles, você tem que
se certificar de que
é o que você realmente quer.
As pessoas não
estão fazendo nenhum favor
aqui. Você
não pode contar com algo que você fez
antes, pois há várias pessoas talentosas e
ambiciosas por aqui.”
Em meio ao
carrossel inebriante
de audições, pilotos e projetos de filmes que quase deram
certo, logo ficou claro para
Evanna que
ela precisava
de algo para se prender à realidade.
Algo que iria fornecer a
fundamentação espiritual
que ela desejava; para
não falar de um salário.
Ensinar e estudar
arte foram opções por um tempo, mas como
uma ávida fã de yoga desde os 11 anos de idade, Lynch concluiu que fazer um curso para ser professora
de yoga era perfeito.
“O engraçado é que eu tenho
dito que para se tornar professora de yoga em Los Angeles é mais difícil do que
trabalhar em Hollywood”, ela ri.
Por enquanto, ela dá aulas privadas, e
ocasionalmente para o público em geral, onde felizmente não é reconhecida
pelo seu mais famoso alterego.
“Qualquer um que tenha superado um problema de transtorno alimentar precisa fazer alguma atividade física para ter paz de espírito”, explica ela. “Eu não acredito em nutrir apenas uma parte da alma ou da mente ou do corpo. Quero dar atenção a todos eles. Eu não acho que qualquer um pode ser apenas um ator.
Trabalhos para atuar, vêm com um tempo.
Eu os vejo como um verdadeiro
presente... Mas eu precisava de um
emprego com uma pessoal normal. Atuar pode ser muito solitário, e muito ‘me-me-me’. A yoga coloca tudo de volta no equilíbrio.”
Lynch admite
que ela que comprou a ideia de LA: “Isso
soa muito como um clichê!”, ela ri. Atualmente, ela é vegena, não
exclusivamente por razões de saúde, mas porque ela gosta muito de animais.
“Eu tenho horror de ver animais mortos nos pratos”, admite ela. “Minha mãe foi um pouco dura durante um tempo com isso do
veganismo. Mas
eu me sinto melhor assim. Você se sente menos culpada.”
Lynch
volta para sua terra natal, Louth, pelo menos 3 vezes ao ano, passando a maior
parte do tempo 'descansando e cozinhando com minha mãe
“Nós brincamos que o meu pai tem um negócio clandestino de vender os meus autógrafos”, ela ri. “Ele tem uma
pilha de fotos minhas que ele sempre quer que eu assine. E
eu digo: "certamente já autografei fotos para todas as crianças de
Drogheda.”
“O que eu adoro quando volto para casa
é aquela sensação de que as coisas não mudam nunca”, acrescenta
ela. “Quando eu era mais jovem, isso foi parte da razão que me fez sentir que
eu não poderia mais viver lá -
porque nada acontece e as coisas
continuam as mesmas. Mas agora é a razão pela qual eu amo voltar.”
Mesmo agora, os pais de Lynch, Donal e Marguerite - ambos professores - ainda estão começando a lidar com a natureza incerta da indústria
cinematográfica.
“Eu sei muito bem que não devo ligar para casa quando tenho uma audição
ruim, porque meus pais irão sempre falar, 'ahhh, volte para casa'”, diz Lynch. “Eu
acho que a minha família teve uma falsa ideia sobre a indústria cinematográfica
por conta de como eu consegui o papel em 'Harry Potter'. Acho que eles
esperavam que isso acontecesse de novo e de novo, mas eu tive que explicar a
eles que um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar.”
Ela ainda mantém contato com seus companheiros
de ‘Harry Potter’; no mês passado, muitos deles - incluindo Domhnall Gleeson, Helena Bonham-Carter e Bonnie Wright – foram convidados para a abertura da atração do Beco
Diagonal no parque temático de Harry Potter no Universal Studios, na Flórida.
“Eu vi Domhnall Gleeson
lá e nós estávamos falando sobre o seu papel no novo filme 'Star Wars'”, entusiasma Lynch. “Eu me
lembro dele dizendo: ‘É ótimo que
isso está acontecendo, e eu realmente gosto
de atuar, mas você também tem que
ter tempo para sua vida pessoal'.”
Lynch parece realmente animada pelo sucesso de
seus amigos, embora admita uma pequena crise de confiança de vez em quando. Não faz muito tempo, afinal de contas, que Lynch estava sendo mencionada e comparada a Saoirse Ronan, um jovem talento que tem características parecidas com ela e que ganhou destaque ao mesmo tempo que ela.
“Às vezes eu desejo que eu estivesse
trabalhando mais, você fica com ciúmes dos atores, mas eu gosto de onde estou
melhor”, diz ela. “Se você gastar o seu tempo comparando-se com outras pessoas,
você vai ficar louco.”
Se Lynch seguirá Emma Watson ou Ronan no caminho para o estrelato nas telas de cinema, só
o tempo dirá (ironicamente, Watson também revelou que ela está supostamente treinando para ser
uma professora de yoga).
No entanto,
apostamos que Lynch pode compartilhar do mesmo sucesso de sua ídola JK Rowling
no futuro. Lynch escreveu uma aclamada redação
sobre imagem do corpo, chamada “Porque o vinculo ao corpo é meu pesadelo”.
“JK
e eu ainda escrevemos
cartas uma para a outra”,
revela Lynch. “Eu tenho feito isso desde que eu era
uma menina e
eu adoro, nós não paramos
com isso.”
“Eu adoraria escrever livros”, diz ela timidamente. “Eu tenho muito
respeito por escritores, eles
estão fazendo a coisa mais nobre. Mas
tenho apenas 22 anos, então não tenho certeza se tenho muito para escrever
ainda.”
Quando Lynch perceber que já tem muito dizer, provavelmente não haverá
nada em seu caminho que a impeça.
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